quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Carta de agradecimento





            Com o bilhete me indicando a tarefa de agradecer a moção desta Casa em nome da família Morelo, recebi de Maria Helena mais que o compromisso dado: recebi a sua bênção.
E essa bênção dada junto com o trabalho aparentemente singelo de representar em letras os meus neste agradecimento, traz em si a importância que têm as últimas palavras de um homem ditas no apanhado de seus noventa e sete anos exatamente antes  de morrer: “essa minha filha vai virar santa”.
Naquela noite mãe me disse ao telefone: notícia ruim, pai morreu. Eu, que herdei o choro fácil dos Morelo, mesmo agora enquanto escrevo, tenho os óculos embaçados. E ainda que forjado na militância de recitar publicamente minha poesia e sustentar teses em Tribunais, chego a duvidar que tivesse condições de ler este texto aos senhores, fosse o caso, sem que o choro me interrompesse ou mesmo impedisse. Porque, ao me lembrar do velho, de sua presença, de seu exemplo formador, de sua generosidade, percebo que o seu desaparecimento veio sumir parte em mim.
José foi um homem simples, como tantos, e apesar das dificuldades que também não lhe eram exclusivas, mas nem por isto diminui a importância do legado, criou, ao lado de Mariquinha, doze filhos corretos. E o fez porque ele próprio foi um homem correto.
É sabido por todos nesta cidade, e por onde mais ele passou, que José Morelo não ganhou retidão de caráter por ocasião de sua morte, como sói acontecer aos mortos.
Foi um homem bom todos os dias de sua vida.
Tenho toda a minha genealogia cravada ao pé dessa serra. Pais, avós, bisavós (de ambos os lados), todos nascidos e criados em Tocantins. Carrego no que sou um tanto do que foram eles, mesmo daqueles que não conheci.
Quando me mudei para o Beija-flor no final da década de noventa para trabalhar no ofício de poeta, causei a óbvia curiosidade nas pessoas que causaria um forasteiro. E apesar de meu avô paterno e minha avó materna terem nascido ali no Córrego, logo percebi que era José Morelo o nome que me abriria, como de fato abriu, os sorrisos e as portas da comunidade. Foi sua descendência que me emprestou a confiança daquela gente. Que me deu pertencimento.
Esse fato, por si, resume pra nós, seus descendentes, a importância desse homem, que esta Casa teve a gentileza de homenagear e, pelo que, somos todos muito gratos.

fabrízio morelo
De Brasília para Tocantins, em 11/11/2012

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