VANDALISMO
(Augusto dos Anjos)
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
BANDALHISMO
(Aldir Blanc)
Meu coração tem butiquins imundos,
antros de ronda, vinte-e-um, purrinha,
onde trêmulas mãos de vagabundos
batucam samba-enredo na caixinha.
Perdigoto, cascata, tosse, escarro,
um choro soluçante que não para,
piada suja, bofetão na cara
e essa vontade de soltar um barro....
Como os pobres otários da Central,
jah vomitei sem lenço e sonrisal
o pf de rabada com agrião...
Mais amarelo que arroz de forno,
voltei pro lar, e em plena dor-de-corno
quebrei o vidro da televisão.
Quem descobriu isso? Ou foi ele (Aldir, claro) que deu a dica?
ResponderExcluirUm amigo que já tive, e se perdeu de mim, me ensinou esse soneto do Aldir. O do Augusto, que escreveu muito pouco, já conhecia.
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